13.9.08

O fardo, a notícia, a saudade.

Tinha sido uma sexta-feira normal. Na verdade estava inclusive considerando-a um maravilhoso dia.

Acordei 15 para as 8 porque eu ia ter aula de inglês. Trabalhei até as 6 da tarde, passei em casa para tomar um banho e fui atrasado como sempre para a faculdade. Como tenho feito todas as noites, as 11 horas estava no parque com um casal de amigos para correr. Cheguei em casa por volta da 1 hora da manhã, comi uma refeição leve por causa do horário, exatamente como tenho feito todos esses dias. Baixei meus e-mails e fui tomar um banho. Depois, no exato instante em que coloquei meus remédios que entre outros efeitos me ajudam a dormir, na boca, o telefone do meu quarto tocou.

Digamos que uma bomba inesperada fosse jogada no seu colo, e você que deveria contar a explosão. Foi mais ou menos assim. Meu irmão mais velho sem muita cerimônia me contou que a minha avó, minha única avó viva havia morrido. Eu sinceramente nem ao menos lembro exatamente qual foi minha reação, mas me lembro do chão abrir e fechar depois sob a minha cabeça. Olhei para o telefone como se ele fosse me abraçar. Nessa hora eu desejei não estar solteiro.

A cidade é Campinas e ninguém queria ligar para avisar meu pai. Estou falando de uma senhora de 92 anos e 2 filhos vivos (2 falecidos). Minha tia e meu pai. MInha tia havia chegado na quinta-feira, devido a um leve susto que a minha avó havia dado em todos ao parar na UTI por um problema pulmonar. Recuperou-se em 24 horas. Em 48 horas já estava no quarto. Em 72 estava em casa. Em 96 estava morta. Não havia coragem, ninguém queria falar ao filho sobre a morte da mãe por telefone. Eu fui o sorteado.

Fiquei parado na porta do quarto. Vieram algumas milhares de frases, mas na hora em que eu colocava a mão na maçaneta elas pareciam correr assustadas. Ok, em termos de susto eu acho que ali estava no centro. Abri a porta entre latidos de um cachorro de apenas alguns centímetros em fúria e um 'oi'. Me surpreendi, esperava encontrar ronco e não saudação. Parei. Respondi. Pedi ao meu pai se ele poderia levantar. Minha mãe que toma remédio para dormir, no mesmo instante já estava aos gritos querendo saber o que havia acontecido. Não podia responder. Pedi para que ele me acompanhasse para fora do quarto.

'O que foi? Você bateu o carro?', foi a primeira coisa que eu escutei. 'Não', respondi. 'Acho que a notícia é pior pra você pai', completei. Depois eu fiquei sabendo que na hora ele pensou: 'bateu no meu carro!'. Olhei para tantas direções quanto era possível. Pensei o suficiente para ver diante dos meus olhos toda a minha biografia. Senti um frio subir pela minha espinha. Já estava tremendo e com a voz falhando, agora me sentia transparente. 'Pai, a vó faleceu'. O mundo parou. Tentei ser o mais sóbrio possível, eu precisava estar forte ali. Se alguém tinha que cair, não poderia ser eu naquela hora. Eu não sabia qual ia ser a reação dele, mas vi a perplexidade. Me perguntou como havia sido, mas eu não sabia. Percebi que na hora que meu irmão me ligou eu simplesmente não perguntei. Pedi para que meu pai ligasse para o meu irmão mais velho. Vi que ele fora para o quarto. Direção errada.

PS: hoje, faz uma semana.

Um comentário:

Amanda disse...

Vc pode até estar solteiro...mas eu estou aqui...sempre

e vou odiar se vc em algum momento duvidar...