29.9.16

companheirismo.



       A gente fica buscando o amor. Desde pequenos aprendemos que amor era quando o príncipe acordava a plebeia com um beijo. O cavalo branco chegando. Mas no fundo tudo isso é uma grande ilusão. Uma fantasia que a gente guarda como se fosse uma verdade absoluta e pauta a vida nessa busca. Muitos de nós acaba se contentando com o meia-boca, seja no amor, no trabalho ou na vida, porque sempre, no subconsciente, no consciente, em todas as células do corpo a gente continua esperando o cavalo branco chegar. Mas ele não vai vir. O amor vai muito além disso.

     A gente começa com a paixão. O frio na barriga quando você conhece alguém. Talvez você já tenha conversado com elx durante um tempo antes de se conhecerem, afinal de contas estamos na era moderna, da internet de fácil acesso. Muito mais fácil conhecer alguém online do que simplesmente tropeçar nx futurx namoradx na rua. Mas paixão não tem base, tem química, hormônios, neurotransmissores agitados. Tantos nomes para dizer fatos óbvios. Paixão acaba.

       O amor é algo que você vai construindo. Não, não existe amor à primeira vista, isso é paixão. Amor é o tijolo que você vai empilhando até virar uma parede. Se ela vai se manter em pé ou não, vai depender de toda a fundação que você construiu e isso que vai delimitar se essa parede vai continuar ali durante um terremoto. E quando eu digo terremoto, são as pequenas coisas da vida cotidiana. Quantas vezes você não se apaixonou por alguém, talvez até perdidamente, e com o passar do tempo (e nem precisa ser muito tempo não), você foi percebendo que os gostos não batiam? Não havia uma harmonia silenciosa entre vocês e tudo foi se acabando. Seja em uma briga violenta, um afastamento súbito, um adeus nas entrelinhas. O amor demanda tempo e dedicação.

       Para se amar alguém, você precisa, em primeiro lugar se amar. Soa clichê, né? Mas veja bem, se você, acima de qualquer outra pessoa, não se amar, não se aceitar profundamente, como você pode querer que o outro o faça? Esse é o maior ponto de partida. Seja autossuficiente, porque se um dia elx for embora, você continuará sendo a mesma pessoa que sempre foi, talvez com um ou outro aprendizado deixado como lembrança, mas manterá sua identidade e continuará sabendo que tu és. 

       Para amar você precisa admirar o outro em diversas formas. Aprender junto. Crescer junto, não importa a tua idade. Você não consegue amar alguém que você considere inferior a você e isso se aplica do outro lado também. Opostos se atraem? Talvez. Mas não cola. Os dispostos se completam. Não no sentido de preencher algum buraco que você tem aí dentro. Isso não existe. Se você for esperar que outra pessoa preencha teus buracos solitários da alma, isso só vai durar até, um dia, você se tornar a pessoa bem resolvida, lisa como um asfalto recém posto e daí acabou. Todo o fundamento que você tinha montado havia sido em cima de algo que já não existe mais. Você se tornou infinito. E elx apenas uma band-aid que cai sozinho durante o banho.

     No final das contas a gente não busca a outra metade, nem a bengala existencial. A gente busca x companheirx. A pessoa que vai te fazer cia nos teus programas prediletos e você nos delx. Companheirismo é tudo nessa vida! Seja em uma amizade ou em um amor. Nunca esqueça de primeiro criar as tuas próprias bases, pra depois ir empilhando os teus tijolos. Se eles caírem, a base ainda estará lá e você continuará de pé. Nenhum pedaço teu foi embora. Quem foi, foi elx. Você vai continuar caminhando, encontrando outros tijolos por aí para empilhar, até que um dia, quando você menos perceber, a parede está lá. Imensa. Enorme. Os terremotos já passaram e nada aconteceu. Você é completx. Elx é completx. E vocês juntos são imensos, infinitos. Não procure tanto o cavalo branco, nem a metade do teu copo. Seja o teu copo inteiro e procure alguém que o faça transbordar. E seja feliz, sozinhx ou não, todos os dias da tua vida.

c.e.

26.9.16

segunda-feira


       Segundas-feiras sempre são dias complicados pra mim. Primeiro porque domingo é um dia fodido. É basicamente meu dia oficial da enxaqueca. Fico atirado na cama o máximo de tempo que eu posso, agonizando com uma dor lancinante que insiste em não passar. Depois levando com pressa no final da tarde e me jogo na rua procurando algo pra fazer, uma calçada, um café e um cigarro nervoso, esperando que a dor melhore. Visito farmácias, amigos, becos. Nem sempre alivia, às vezes volto com a mesma dor que eu saí de casa. Ela fica me acompanhando como se fosse uma sombra silenciosa em um dia de calor. Daí vem a segunda-feira com essa ressaca de dor, uma dormência no corpo. Fico assim, parado, olhando a janela e esperando esse dia acabar logo. Ainda bem que nenhuma segunda-feira dura para sempre.

23.9.16

pelo amor ou pela dor.


você sempre vai ter a opção de aprender com o amor. veja bem, ele está aí, sempre por perto. os pais, os amigos, alguns amores aleatórios de quartas-feiras. um amor de cama. ele está sempre passando pela tua vida de alguma forma, mas mesmo assim a gente insiste em só aprender pela dor. o sofrimento ensina também, doloroso mas ensina. ah, mas o amor, tão melhor aprender pelo amor. uma pena que a gente nunca consegue. 

22.9.16

enciclopédia.


a gente vai ficando assim. o botão fica em cima do enviar. eu vou apagando e escrevendo sei lá quantas vezes e procuro algum lugar seguro onde eu não preciso saber se você leu ou não. continuo fazendo textos tentando aliviar esse peso. essa falta. essa saudade. se eu pudesse transformar a paixão em tinta, eu te daria uma enciclopédia.

16.9.16

calçada.


eu já escrevi tantas vezes sobre isso. é como ler sempre o mesmo livro. e devagarzinho você vai sumindo. vai ficando indiferente e não existe nada pior do que isso. dizem que o contrário do amor não é o ódio, o ódio é o amor frustrado. o contrário do amor é a indiferença e não existe nada que machuque mais do que isso. de qualquer maneira, eu também me machuco. não pela tua indiferença, mas pela minha. pela forma como você vai desaparecendo. o que eram conversas animadas viram pequenos monólogos, frases soltas, comentários fora de contexto. aquela conversa na mesa não existe mais faz algum tempo. aliás eu acho que esqueci quando foi a última vez que te vi. devagarinho, assim, bem de leve, quase sutilmente, você foi indo. eu também. às vezes a gente se encontra, se fala, se esbarra por aí. você sorri. eu disfarço. a gente continua caminhando.