10.10.08

Ahhh a Saudade!

Eu parei para pensar. Acho que havia aprendido a encarar a morte de uma forma quase 'positiva'. Não encurtia mais aquela idéia de sofrimento eterno e etc. Estava mais consciente, mesmo que por minha total e própria conta, porém mais consciente. Era uma quinta-feira e eu estava indo correr no parque, como fazia todas as noites após a faculdade. Horário: 11 horas aproximadamente.

Celular toca: Mãe chamando. (Mau presságio, ela nunca liga).

- Alô
- Onde você tá?
- Indo correr, pq?
- Me encontra no Hospital Cristovao da Gama
- Aconteceu alguma coisa?
- Seu avô tá passando mal.

Ligo e aviso meus amigos. Correr ficará pro dia seguinte.

A primeira coisa que eu pensei, confesso, foi um ataque cardíaco, afinal de contas eu cresci com o meu avô tendo problemas no coração, infartos e congêneres. É o pai da minha mãe, o único que eu tinha vivo. O detalhe surpreendente é que no dia seguinte era a missa de sétimo dia da mãe do meu pai, minha última avó. Agora ó tinha aquele avô, e estava pronto para o amarrar no pé da mesa caso fosse necessário.

Chegando no hospital descobri que na verdade era uma dor abdominal até então sem origem conhecida. Quem estava precisando agora de um exame do coração era eu. Passou no médico em Santo André, voltamos para Mauá, fui para casa enquanto voltavam para Santo André e terminaram a via sacra em São Paulo na Santa Casa. Diagnóstico: Aneurisma GIGANTE de aorta. Acredite, era ENORME. Internaram meu avô.

A semana foi sensacional. Acordava cada vez mais cedo para poder ir para o escritório e depois cuidar da fábrica enquanto ele estava fora e minha mãe ia para o hospital. Segui essa rotina a semana seguinte quase inteira. Marcaram a cirurgia para quinta-feira. O risco era mais ou menos 50%. O caso era considerado extremamente grave. Pensei em todas as coisas que foram possíveis. Ligava todos os dias, mas em nenhum eu visitei. Ia para o hospital sempre, mas ficava do lado de fora. Tinha pânico de andar pelos corredores. Sentia como se meu corpo fosse ficar ali aprisionado e nunca mais saísse. Acho que se a lanchonete conseguisse fabricar uma quantidade ilimitada de coxinhas, eu teria comido todas.

No segundo domingo de internação eu o vi. Estava como sempre com cara de bravo. Digamos que o meu avô com a família não era a pessoa mais dócil do planeta, mas eu estava em pleno treinamento para que ele aprendesse a ABRAÇAR. Acreditem, era uma tarefa árdua! Mas tudo parecia estar sendo muito bem coordenado e direcionado. Ok, havia uma certa pressão em cima de mim por 27 motivos, mas que não fazem parte do post.

Foi a última vez em que eu o vi.

Eu carregava dentro de mim a certeza de que ele sairia daquela e ainda mais forte. Não foi possível. Na última vez que o vi, mostrei a tatuagem que fora feita em sua homenagem e disse a ele: Você sabe que eu te amo né? Não vai esquecer? =] Eu consegui dizer adeus, mesmo sem saber que aquilo era um adeus. Ele disse que também me amava.

Como sempre, eu saí do hospital e parecia que tinha sido atropelado 27x pelo mesmo caminhão. Sempre acontece assim. Na quinta-feira ele foi operado. Acho que não preciso explicar muito né? A rotina, tão temida rotina que estava me envolvendo hoje já transcorre de uma forma quase sutil.

A missa de sétimo dia? Não fui em nenhuma das duas no final das contas. Ok, em 3 semanas eu perdi 50% dos meus avós e 75% dos que eu cheguei a conhecer. Rápido demais talvez. Mas tudo na vida sempre carrega terceiros motivos. Alguns são mais duros de enfrentar. Outros são razoáveis. A vida é perfeita enquanto acreditamos nela.

O caminho não parou para mim. Nem os sonhos e conquistas. Acho que na verdade foi até um empurrão do tipo: "Mexa-se ou Ficarás!". Funcionou caso queiram saber. As coisas fluem. A saudade fica mas o legado nunca morre. A memória fraqueia, mas sempre haverá uma foto. Eu não sou o mesmo de antes.

Um comentário:

Fabiana disse...

Achei seu blog na blip e resolvi entrar...
Sério, esse foi um dos textos mais bem escritos e com mais sentimento que eu já li. Parabéns!