21.6.16

Dia 2




O segundo dia foi um impulso. Foi a veia saltada na têmpora. Um descontrole. Afinal de contas, havíamos nos visto um dia antes, pela primeira vez. A jaqueta amarela, o lanche de pernil, o bombom, o seu sorriso. Lembro que voltei para casa tarde, em um estado de embriaguez clichê e ouvindo Wolf & I descontroladamente no repeat. Aquela música virou um símbolo pra mim e eu nunca mais a escutei.

Não teve absolutamente nada de mais. Nenhuma história engraçada ou romântica para contar. O mesmo posto de gasolina, o mesmo carro e beijos intermináveis. Dessa vez eu não precisei dizer não. Na verdade mal precisei dizer qualquer coisa, era uma sintonia quase sinfônica. Era perfeito e eu era infinito.


            Continuei com a mesma música. A mesma sensação de embriaguez. Novamente eu voltei tarde pra casa e você me pedia para te avisar quando chegasse. Me esperava ainda acordado mesmo sendo absurdamente tarde. Mas te ver, eu descobri naquele dia, era como recarregar a bateria do carro pela tomada. Dava uma carga extra que fazia tudo funcionar melhor. As coisas brilhavam mais. E eu brilhava mais do que todas elas.

            Voltei com o mesmo sorriso besta e as borboletas no estômago, que agora pareciam girar pelo meu corpo inteiro. Eu tremia de excitação. Você não estava trabalhando durante aquela semana e nos falávamos durante o dia, trocávamos informações sobre a vida, séries e desejos. Haviam planos nas entrelinhas e isso fazia com que eu me sentisse um círculo, que não tem fim.



            Mas depois disso eu não sei o que aconteceu. Houve uma pausa. Foi como se Deus puxasse o freio de mão e tudo voltasse como nos dias em que eu carregava um bombom amassado pra te encontrar. Você era esquivo. Furtivo. Era um prelúdio, um prefácio do que viria a seguir e isso durou alguns dias. Até que eu decidi que era hora de parar. Não no sentido literal. Precisava parar com a gente, com o que quer que tivesse acontecido nos dois primeiros dias.

            Não preciso mencionar que não deu certo né? Pelo menos não o meu plano, porque aquilo foi um wake up call de verdade pra você e as coisas pareciam que novamente iriam entrar no eixo. Mas isso é o dia 3, ou a somatória de diversos outros dias, perdidos, meio vagarosos, vagantes. E o que eu tinha agora era uma história incompleta, pedindo para ter uma continuação.




            Eu te avisei quando eu cheguei em casa, abracei um travesseiro para dormir, pela primeira vez. E abracei forte. Abracei tão forte que meus braços doíam quando acordei. No segundo dia eu percebi que faziam dois dias que eu sonhava com você. E eu apertei ainda mais o travesseiro contra o peito e tocava uma canção secreta no meu fone de ouvido.