O segundo dia foi um impulso. Foi a veia saltada na
têmpora. Um descontrole. Afinal de contas, havíamos nos visto um dia antes,
pela primeira vez. A jaqueta amarela, o lanche de pernil, o bombom, o seu
sorriso. Lembro que voltei para casa tarde, em um estado de embriaguez clichê e
ouvindo Wolf & I descontroladamente no repeat.
Aquela música virou um símbolo pra mim e eu nunca mais a escutei.
Não teve absolutamente nada de mais. Nenhuma história
engraçada ou romântica para contar. O mesmo posto de gasolina, o mesmo carro e
beijos intermináveis. Dessa vez eu não precisei dizer não. Na verdade mal
precisei dizer qualquer coisa, era uma sintonia quase sinfônica. Era perfeito e
eu era infinito.
Continuei com a mesma música. A mesma
sensação de embriaguez. Novamente eu voltei tarde pra casa e você me pedia para
te avisar quando chegasse. Me esperava ainda acordado mesmo sendo absurdamente
tarde. Mas te ver, eu descobri naquele dia, era como recarregar a bateria do
carro pela tomada. Dava uma carga extra que fazia tudo funcionar melhor. As
coisas brilhavam mais. E eu brilhava mais do que todas elas.
Voltei com o mesmo sorriso besta e
as borboletas no estômago, que agora pareciam girar pelo meu corpo inteiro. Eu
tremia de excitação. Você não estava trabalhando durante aquela semana e nos falávamos
durante o dia, trocávamos informações sobre a vida, séries e desejos. Haviam
planos nas entrelinhas e isso fazia com que eu me sentisse um círculo, que não
tem fim.
Mas depois disso eu não sei o que
aconteceu. Houve uma pausa. Foi como se Deus puxasse o freio de mão e tudo voltasse
como nos dias em que eu carregava um bombom amassado pra te encontrar. Você era
esquivo. Furtivo. Era um prelúdio, um prefácio do que viria a seguir e isso
durou alguns dias. Até que eu decidi que era hora de parar. Não no sentido
literal. Precisava parar com a gente, com o que quer que tivesse acontecido nos
dois primeiros dias.
Não preciso mencionar que não deu
certo né? Pelo menos não o meu plano, porque aquilo foi um wake up call de verdade pra você e as coisas pareciam que novamente
iriam entrar no eixo. Mas isso é o dia 3, ou a somatória de diversos outros
dias, perdidos, meio vagarosos, vagantes. E o que eu tinha agora era uma
história incompleta, pedindo para ter uma continuação.
Eu te avisei quando eu cheguei em casa,
abracei um travesseiro para dormir, pela primeira vez. E abracei forte. Abracei
tão forte que meus braços doíam quando acordei. No segundo dia eu percebi que
faziam dois dias que eu sonhava com você. E eu apertei ainda mais o travesseiro
contra o peito e tocava uma canção secreta no meu fone de ouvido.