5.5.09

140km/h

E ae você estava no carro, voltando pra casa. Começa a pensar que está ficando velho e em todas as coisas que você fez.
Hoje você perdeu o pôr-do-sol. Faz quantos dias que você nao o vê como se fosse o nascer ao acordar as 6 da tarde de final de semana? Trabalhando até o momento em que já sai do escritório com os faróis acesos do carro e percebe que as coisas estao um pouco fora do lugar. Te faltam dias e te sobram noites. Você está sozinho, mas talvez isso nao seja necessariamente algo que está te preocupando nesse momento. Você trabalha para pagar o carro, as contas todas que chegam seguidas. Um carnê qualquer ou o parcelamento de alguma camiseta que você viu em uma revista ou alguém te disse que estava na 'moda' e você nao seria ninguém sem ela. Quantas vezes eu nao falei isso no alge da futilidade? Quantas vezes eu nao FALO isso?
Ae entao você vai percebendo que dos 16 aos 18 foi o tempo que mais demorou pra passar em toda a sua vida. Antes disso você ainda se considerava uma criança ou quase (bom, na minha época erámos crianças) e morria de vontade de chegar aos 18. Quando completou 16 algumas salas de cinema começáram a se abrir para você, mas liberdade total e absurda só aos 18. Bom, nessas horas esquecem de avisar as pessoas que elas continuarao morando com os pais e obviamente sujeitas as regras da casa e de quem paga as contas. Mas você o completa e se sente bem ao poder aprensetar um RG que nao seja falso na hora de entrar em uma discoteca e nem de ser preso quando entra no Motel. Um mundo inteiramente novo todinho ali na sua frente e você esquece de algumas coisas.
Quando eu reparo nas pessoas em faixas etárias próximas a minha eu vejo pessoas que estao preocupadas demais em pagar as contas e organizar a balada do final de semana que esquecem de ir pra frente. Eu digo que me arrependo, por mais delicioso que possa ter sido, de dormir durante as tardes depois da escola porque afinal de contas era muito mais legal aproveitar o ICQ/MSN durante a madrugada onde todos estavam online e conversando e prontos para acordar, irem para a escola e depois passarem a tarde dormindo enquanto os possíveis chefes de Estado, grandes empresários e etc estavam preocupados em estudar e ganhar prêmios e aumentar o QI. Ok, passou e ninguém te deixará voltar atrás para tentar fazer isso tudo de uma nova forma.
Vasculhamos a escrivaninha procurando o caderninho onde estao todas as anotacoes. Todas as instrucoes que nossos pais, avós e etc nos deixaram de como encarar as situaçoes. Perceber que envelheceu e as atitudes mudaram mas que há um guia ali, e continuamos procurando por ele. Claro que ele nao vai aparecer. Se olhar para os lados verá um grande jogo de tabuleiro, mas nao temos aquele dado para arremessar ao alto e andar o número de casas indicadas, ler as instruçoes e continuar no jogo. Estamos jogando um tabuleiro diferente que nos foi entregue em branco. Você pode escolher para que lado quer ir, desde que nao volte. Opcao inválida te dirao e você verá que a caneta está nas suas maos para continuar a escrever. Comeca a reparar na letra ingênua que tinha até você parar para perceber que aquilo tudo era um jogo real e que era você que estava escrevendo sem ajuda de nenhum ser mitológico. Você entao percebe que as coisas eram um pouco mais reais e rapidas do que você imaginava ou esperava que elas fossem.
Mas continuaremos procurando as indicacoes e encontraremos um vidro de creme anti-rugas e vemos que a lei da gravidade está começando a pegar lugares que antes eram cheios de sí. Olhavam para o alto e agora estao deprimidos olhando para o chao. Você está chegando aos 30 anos e se sente tao jovem quanto tinha 16 mas sem lembrar exatamente quais eram as sensacoes naquela época. Viveu coisas demais ou de menos. Foram intensas ou simplesmente passaram sem você perceber, mas foram levemente apagadas de cada um dos cantos do teu subconsciente dopado por mídias, opinioes e conselhos e nao sao aqueles que você está procurando na escrivaninha agora.
Passamos pelo mesmo lugar e comemos do mesmo bolo mas seguimos caminhos tao diferentes que nao há mais marcas em mim ou em você. Continuamos andando achando que ali na frente haveriam respostas. Se trabalho tanto hoje, serei recompensado amanha. Nao posso mudar. Espera um ou dois dias e as coisas melhoram. Espera acabar a semana. No final do mês eu juro que peço demissao. Espera acabar de pagar aquela camiseta, eu nao posso viver sem ela. Espera só.... espera? Você ficou esperando tempo demais e as coisas foram passando. Você tinha o carnê com as prestaçoes do carro para pagar e mais tantas contas que talvez você nao tenha parado simplesmente pra pensar em nada. Estava ocupado. Ocupado demais em sobreviver ao invés de viver que acumulou riquezas e percebeu que todas elas, sem exceçao poderiam ser incendiadas e sao justamente essas que você pode por fogo que sao as que menos importam. Quando você as busca demais, esquece reais propósitos.
Eu estou nessa fase de olhar e estar preso, de pensar que amanha eu vou poder fazer, vou ter terminado de pagar e as coisas irao mudar. Tudo irá mudar, tudo vai se transformar no final do ano. Tudo muda nao é? Será? Você vai mudar? Teremos coragem?
Tudo resume-se a ilusoes, desilusoes, decisoes e frustracoes. Felicidade e congêneres... bom, acho que isso amanha a gente vai poder resolver nao é mesmo? Escuta o teu coraçao e deixa ele te levar. Você pode sofrer, mas saberá que estará sempre no caminho certo, com as casas bem preenchidas do tabuleiro, sem o dado e sem sobreviver, mas viver... mesmo que na intensidade vermelha do sangue.



ps: na vdd era mto mais q isso mas nao deu tempo de anotar hahaha mas continuará pois o pensamento ainda nao me abandonou.

Um comentário:

Mauricio Zattoni disse...

é tão simples e ao mesmo tempo tão revelador: volta e meia me deparo com um sentimento que mal consigo dar palavras que o sirvam bem. parece que a cada dia, a cada situação, a cada acontecimento, estou aprendendo a viver pela primeira vez. não é óbvio? e não sou só eu, há quem pose que já sabe muito bem viver, mas até minha bisavó, em seus últimos dias de vida confessou: eu não sei, nunca soube! às vezes parece que não, mas estamos todos vivendo pela primeira vez, no mais íntimo segredo, segredo até de nós mesmos: é tudo pela primeira vez: cada dia, cada situação, cada acontecimento, é sempre uma primeira vez. as regras não são deste mundo e quem as segue, não está neste mundo, não vive.