19.10.15

frio.



       Sabe quando você resolve tomar aquela chuva torrencial, imaginando que isso vai te lavar a alma? Eu só senti frio. E mais do que nunca senti falta daquele abraço quente. De urso. Que várias vezes me esquentou naqueles dias em que eu tremia de frio e reclamava da vida. Esse frio é injusto! Eu dizia. Eu não tenho muito tecido adiposo pra me aquecer. É bullying divino. Você dizia que eu parecia o patolino de tanto reclamar. E ria. Chegava a jogar a cabeça pra trás de tanto rir enquanto eu estava ali indignado com o mundo. 

       E mesmo sem saber o que falar ou sabendo que falar só ia me incentivar a reclamar mais ainda, você me abraçava. De frente. Forte. Chegava a me esmagar como se quisesse dizer: para de reclamar por um segundo? Eu estou aqui. Nada pode ser tão ruim assim. E não era. 

       Eu ficava mudo. Era como se tudo parasse por alguns instantes. Me sentia protegido e amado. Me sentia seguro. Era como se o mundo estivesse me envolvendo e me amando. Você era o meu mundo. E era tanto o meu mundo que eu até esquecia o meu. Enquanto sentia o seu coração batendo no peito. Tão perto de mim que o meu parecia que acompanhava. Enquanto eu olhava o seu pescoço e via a sua veia saltando no mesmo ritmo. E meu coração dançava com o teu. Seguia o ritmo. Acalmava. Até você me largar, me dar um beijo e dizer: vamos que a vida não para pra ninguém não. E segurava a minha mão dizendo: pelo menos estamos juntos, não é mesmo? 


       Mas hoje choveu. Começou com uma chuva fina que eu fiquei um bom tempo olhando pela janela. Alguma coisa estava embaçada: a janela ou meus olhos. E quando a chuva apertou é que eu percebi que era ali que eu deveria estar. Pra que aquela água pudesse lavar a minha alma. 

       Sabe quando você resolver tomar aquela chuva torrencial, imaginando que isso vai te lavar a alma?

       Pois é. Eu só senti frio.

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